Segunda-feira passada foi o ultimo post contando do meu dia-a-dia aqui. Ontem escrevi apenas para acalmar os coracoes daqueles que podem ter entrado esperando novidades e amenizar a decepcao.
Criei o blog e tenho tentado mante-lo atualizado para poder contar as minhas experiencias a voces, recontar pra mim e para ter guardado para o resto da vida aquilo que minha memoria possa vir a apagar.
Se nao tenho conseguido mante-lo atualizado com a frequencia desejavel e por dois motivos principais: o primeiro, como disse uma vez aqui, e tambem a vontade de nao deixa-lo piegas, repetitivo e evitar que voces se cansem e me abandonem; o segundo foi minha prima Ju que explicou melhor. Nao tenho escrito tanto simplesmente por nao ter tempo, o que um sinal claro que a vida aqui agora e vida mesmo, rotina.
Voltando entao ao blog em si, vou contar da ultima semana - aquilo que eu lembrar e interessar!
A semana em si foi muito parecida com as anteriores. De terca a sexta, trabalho de manha e escola a tarde. Casa a noite, um eventual supermercado e cama o mais cedo possivel.
Porem, duas coisas foram excepcionais. Uma foi a semana ter tido apenas quatro dias uteis, o que a fez parecer passar ainda mais rapido. A outra foi a belissima noite de sono que eu tive de quarta para quinta-feira. Isso porque meu roommate foi trabalhar.
O Espiritismo tem como um de seus principais focos a paciencia.
Eu sou um cara bem paciente, mas acredito que eu tenho sido testado alem do limite nesses ultimos periodos.
Ja dividi quarto com dois amigos em Sampa, ja viajei com galera, ja vivi muitas experiencias coletivas na vida e aprendi muitas coisas com elas. De longe a mais importante foi o respeito. Foi encontrar e praticar a sensibilidade em nao invadir o espaco daquele que esta dividindo comigo. Aprendi tambem a ter ouvidos, a ter atencao ao comportamento de quem esta ao redor, mudando entao de conduta caso qualquer incomodo seja demonstrado.
Aprendi tambem a ter bom senso e medi-lo com o senso comum, quando ele e bom, obviamente.
Enfim, aprendi que para bom entendedor...
Como meu roommate estava fora de casa eu aproveitei para abrir as janelas do quarto, arruma-lo inteirinho, arrumar meu armario, lavar e pendurar roupas, acender um incenso e prepara-lo para dormir. Deitei perto da meia-noite e meia e so me lembro de ter acordado na manha seguinte de um sono profundo, sentindo o corpo e a mente descansados. Me levantei mais feliz que qualquer outro dia aqui. Tomei meu banho, meu cafe reforcado e fui trabalhar. Trabalhei por dois.
Sexta-feira eu fui ao trabalho bem disposto tambem, apesar de a noite nao ter sido tao maravilhosa quanto a anterior. Sai de la e fui a um PUB com o pessoal para o O'Neils, um PUB irlandes muito famoso. Tomamos umas pints e discutimos sobre o pagamento que recebemos. Uma vergonha. Apesar de ter trabalhado dez horas a mais eu recebi exatamente a mesma coisa que as semanas anteriores. E isso aconteceu com todos. Estamos articulando para o pessoal de todas as lojas, que compartilham dessa insatisfacao, fazer um movimento para pelo menos ter um feedback da situacao.
Com o pagamento abaixo do esperado e com um mes de recebimentos e contas balanceados, percebi que terei mesmo de arrumar um segundo trampo se quiser viajar mais e comprar coisas para mim. Era uma possibilidade e agora e fato, concreto. Vamos correr entao!
Sabado acordei e vi que estava um dia maravilhoso.
Na sexta havia combinado com o Amauri, meu brother mais brother do trampo, de irmos a Notting Hill, mais especificamente na Portobello Road. La rola, alem do cenario do filme, uma feira livre muito bacana. Artistas se apresentando nas esquinas, antiguidades, artesanatos e souvenirs sendo vendidos em barracas e lojinhas bem tradicionais e muita, ma' muita gente passeando e curtindo o cenario que, de longe, foi o mais tipicamente europeu que eu vi desde que cheguei e talvez o mais completo em relacao a me sentir muito bem, ao mesmo tempo integrado e alienado.
Ficamos la ate perto das 3h da tarde e depois fui ao Hyde Park encontrar a Sandra, a Dani, a Carol, que e prima delas, e mais umas dez pessoas, que estavam curtindo um dia de verao daqueles no parque. Foi o ultimo dia das meninas em casa e em Londres.
Saimos todos juntos do parque e fomos ate em casa para tomar uma cervijinha e dar adeus a elas. Foi a terceira ruptura que eu enfrentei aqui em London. A Dani e uma graca, muito menininha ainda, com muita coisa para aprender, mas muito esperta, cheia de vida e de sonhos. Me ouviu bastante e foi uma companhia muito bacana.
A Sandra e uma daquelas pessoas que certamente sera uma das referencias mais fortes dessa minha trip aqui em Londres. Nos demos bem desde o dia em que nos conhecemos. Empatia mesmo. Gastamos muitas e boas horas em conversas que atravessaram as madrugadas e que nunca acabaram. Espero que nunca acabem. Ela ja esteve aqui em London antes e me contou muita coisa. Ja viveu mais e passou um pouco da vivencia para mim. Deu atencao a tudo que eu disse e falou que aprendeu comigo.
Ela e muito bem casada, realizada profissionalmente, tem uma familia que ela ama e tempera essa receita de felicidade com muita alegria de viver. Curtiu cada segundo aqui, agregou experiencias para si e para todos ao redor e foi embora cheia de saudades daqui, mas morrendo de vontade de voltar pro maridao e fazer o pessoal de la mais feliz. Valeu minha amigona!
Fiquei com elas ate a hora do taxi chegar, umas 4 e pouco da manha de sabado para domingo.
As 6h30 da manha de domingo tocou meu despertador e eu acordei todo serelepe. Estranho, ne?
O que acontecia e que eu estava indo para Bournemouth, uma cidade litoranea a 2h daqui.
Acordei o Felipe e a Magna, tomamos banho, comemos um cafezao reforcado, preparamos o lanchinho. Toalha, short e havaianas na mochila.
Nos encaminhamos para a Waterloo Station, de onde o trem sairia. Nos encontramos la com o Joao e com a Tchela, um casal super bacana.
Depois de um sabado ensolarado e quente, tudo que queriamos era um domingao igual. Pobres de nos. Saimos daqui de London com uma leve garoa e torcemos para que la as coisas estivessem melhores.
Apesar do tempo nublado, um ventinho quase frio, valeu demais o passeio.
Por sorte, estava tendo um evento das Forcas Armadas Reais por la. Um show aereo muito bacana. Avioes de caca, helicopteros de guerra dando loopings, avioes gigantescos fazendo manobras, "esquadrilhada fumaca" dando piparotes. Uma loucura.
Esticamos a canga gigante da Tchela na areia - que foi comprada e espalhada por cima das pedras originais do litoral Britanico - e assistimos a tudo super relaxados. Quando a fome bateu, saimos a procura de uma refeicao decente, com vista para o mar. Depois de tentar varias opcoes, fomos parar em um muito bacana, com fila de espera e tal. Comemos fish & chips, o prato mais tradicional daqui. Nao que eu adoooore, mas valeu demais. Agora so daqui uns meses. Tanto pelo preco, quanto pela falta de criatividade e tempero.
Saimos de la e passeamos pelo pier. Parecia aqueles filmes de terrorista, bem Hollywood mesmo.
Carrossel, criancinhas no colo dos soldados, um navio de guerra na baia, musiquinha de fanfarra e etc. Fiquei esperando alguma coisa explodir e o Denzel Washington vir correndo nos salvar de camisa florida, com o braco ferido e com oculos escuros e walkie-talkie. Que pena. Nada aconteceu, queria tanto um autografo do Denzel Washington. Nem o Cumpadi Washington apareceu! Droga!
Resolvos voltar para a estacao e tentar pegar um trem entre 19h e 20h. Voltamos pelo parque que corta a cidade. Ele tem varios tipos diferentes de jardins. Muito bonito. No caminho tinha uma fanfarra muito bacana tocando para uma audiencia bem tranquilona, clima de interior no litoral.
Quando estavamos a alguns metros da estacao, vimos que tinha uma macieira, cheinha de macas, num canteirinho perto de uma travessia subterranea. Fomos ate la para ver se era mesmo. E era.
Na hora veio a minha cabeca uma metafora.
A minha vida e como essa maciera. Ela me oferece um monte de frutos. Esta posicionada em um lugar por onde as pessoas tem que passar se quiserem atravessar um caminho perigoso de uma forma mais segura. Esta tambem disfarcada e pode nem ser percebida se eu nao cuidar bem de mim, resistir as agressoes e tiver fe de que ninguem passara por la e a machucara, ou arrancara um de seus frutos a forca.
A minha macieira ja me deu um monte de macas lindas, em forma de pessoas, lembrancas, de fe.
Tenho tentado rega-la mais ainda com emocoes intensas, retirando de cada acontecimento a maca mais cheirosa, vermelha e verde, com um cabinho marrom e com o maximo de sumo.
E o melhor e que a minha macieira me da macas das quais eu me alimento diversas vezes, ilimitadamente. E elas sao minhas.
Sabem o que eu quero fazer? Ser tambem uma macieira que nem aquela que eu vi em Bournemouth. Ficar no caminho das pessoas e deixar que elas vejam minhas macas. Fazer com que elas pensem que a simplicidade da natureza pode despertar a metafora que talvez explique o sentido das coisas mais complexas da vida, trazendo assim de volta a fe, o amor, a paciencia em tudo aquilo que se ama.
E eu amo voces, minhas macas!
Saudades.