quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quando adiamos o adiado.

Demorei muito para voltar a escrever aqui de novo. Isso é fato.
No começo desta longa pausa, achei que apenas alguns dias me trariam novidades e seriam tempo suficiente para me sentir inspirado. Acontece que hoje, quase quarenta dias depois, eu vejo que foi um erro.
Não sei exatamente o que falarei aqui. Querendo ou não, muitas coisas aconteceram nesse período. Nada essencialmente inesquecível. Talvez umas lembranças que podem voltar em um dia qualquer, quando estiver dirigindo, trabalhando, contando meus dias aqui para meus filhos.
É lógico que, se eu fiquei tanto tempo sem escrever, algumas pessoas começaram a pensar que eu desisti, que eu estava cansado, que eu estava com preguiça ou qualquer outra coisa. O que aconteceu na verdade foi que eu entrei aqui todo santo dia, esperando vir uma fagulha inspiradora que me fizesse sentar a bunda em frente à tela de algum computador e só me levantasse quando ela estivesse formigando, os dedos doendo e a cabeça fervendo. Em vão.
Foi um processo tão repetido que só me ajudou a ficar com mais peso na consciência.
Poxa vida, como é que eu poderia ter perdido a inspiração de um dia para o outro?
Apesar de eu estar escrevendo aqui hoje, não me sinto inspirado. Acabei me convencendo que a tal inspiração me abandonou e que, se eu quiser manter esse projeto vivo, terei que abdicar do tesão por alguns minutos e ver se pego no tranco.
Da última vez que eu escrevi, até hoje, muita coisa aconteceu.
A paisagem, completamente diferente. Nunca me lembrei tanto das aulas de ciências e de geografia, onde as professoras ensinavam que na Europa as quatro estações são bem definidas. O verão foi bem quente, com algumas chuvas e com os dias bem mais longos que as noites. O outono chegou devagar, com os dias se encurtando e com as folhas secando e caindo das árvores com a ajuda dos ventos constantes. Hoje as temperaturas não passam de um dígito. Nevou em uma época do ano nada comum e o cachecol passou a ser um acessório tão importante quanto cueca e meia. Ouço o rádio todos os dias antes de ir trabalhar, só para saber a situação do metrô e a temperatura do momento. Comprei uma jaqueta à prova de chuva e vento pela metade do preço e a uso quase todos os dias. Agora o inverno está chegando e as previsões não são muito animadoras. Parece que o frio vem com tudo. Está escurecendo por volta das 16h e as pessoas estão começando a ficar emburradas!
Em relação à língua inglesa está tudo muito bem, obrigado. Agora a evolução é mais lenta, porém, mais sensível. O vocubulário está mais amplo, a gramática mais correta e o meu português imerso em anglicismos.
No trabalho, muitas novidades. Com a crise financeira que está abalando demais as estruturas do Reino Unido, houve muitos cortes nas horas de trabalho do pessoal do restaurante. Minhas horas continuam as mesmas, às vezes até cubro o horário de algum colega que tira folga. Para complementar a renda, continuo fazendo bicos. Fui mais duas vezes substituir meus amigos no Pub e comecei a trabalhar de garçom.
Aí vem um momento peculiar da minha jornada: o Gustavo me convidou para fazer parte de uma agência que contrata brasileiros para trabalhar como garçons em uma associação de "barbeiros-cirurgiões". Estranho, né? Pois então, trata-se de uma corporação de ofício fundada em 1308, que reune até hoje profissionais da mesma área com a função de controlar as leis e os direitos da classe. Mas o que os barbeiros têm a ver com os cirurgiões, 'pelamordeDeus?!' Naquela época, a sangria era um ritual muito utilizado no tratamento de divesas doenças e ninguém melhor que os barbeiros, muito habilidosos no manuseio das afiadas navalhas, para realizar o procedimento. Apesar de a medicina ter dado uns pulinhos adiante nesses útimos 700 anos, os caras continuam com o tal do "Barbers-Surgeons Guild" e contratam brasucas para servi-los em seus opulentos banquetes.
Atrás de grana e de mais uma experiência para o meu já adereçado curriculum, resolvi topar a brincadeira. Fiz a ligação para a responsável pela agência e marquei o meu primeiro evento. E foi um evento de peso. Trabalhamos num sábado das 7h30 até às 18h. E lustra talher, dá uma polida nas taças de cristal, prepara bebidas, enrola talheres nos guardanapos de pano... foi cansativo mas, valeu. Um fato curioso é que, por se tratar de um lugar cheio de frescuras e protocolos, eu tive de tirar minha barba e não podia usar brinco durante os eventos. Comprei um aparelho de babebear, tirei os brincos, comprei camisa branca na Primark por £3 e me vesti de garçom. Entrei no clima total. Primeiro dia, sucesso. Na quinta-feira seguinte já estava eu lá de novo. Nessa coisa toda, arrecadei £100. No evento de quinta, a primeira coisa que aconteceu foi sensacional. O grupo todo de garçons e garçonetes somava 17 pessoas. O gerente nos reuniu e começou a separar o pessoal em dois grupos. Chama um, chama outro, e nada do Fezinho ser anunciado. Começou a me bater uma certa desconfiança, que virou desconforto, que se tornou preocupação. Sabem o gordinho que vai pro campinho jogar bola com os amigos e é o último a ser escolhido? Pois é, esse era meu sentimento. Mas, logo tudo se desvendou com certa vantagem para mim. Fui designado para preparar as bebidas e ajudar a servir. Coloca vinho numa taça, água num copinho, arruma na bandeja e... 'Felipe, por favor, pegue a bandeja (com 30 taças de cristal caríssimo) e vá até perto da porta servir os convidados!' Pânico! Os caras definitivamente não me conheciam. Respirei fundo, dei a entender que algo poderia sair fora do planejado e fui. Pior do que o medo de tudo desabar, era o peso da bandeja a ser controlado com a tremedeira. Fiquei rezando para o tempo passar e ele passou. Ufa.
Me saí tão bem, que na semana seguinte fui convidado a trabalhar por mais 3 dias. O primeiro dia foi o sábado passado. Fui eu de novo e, dessa vez, o desafio era maior. O evento era um banquete menor, mais sofisticado e eu era responsável por uma mesa inteira. Caos! Fiz tudo o que podia mas, a pressão era enorme e não segurei a peteca como deveria. Servi a mesa numa boa, o problema foi tirar os pratos. Empilha, tira os restos, enfileira os talheres e tudo com o olho do chefe em cima. O cara é um caso a parte. É o verdadeiro "inglesinho de merda!" Do jeito que ele pensa e se expressa ao longo da produção do evento, fazendo caras e bocas, suando frio, coçando a testa e colocando a mão na boca, parece que ele é o Barack Obama pronto para administrar a Guerra do Iraque o Credit Crunch. Em determinado momento, ele veio até mim e me disse que essa era a última vez que eu trabalharia ali até que eu aprendesse a servir um banquete propriamente. Adeus, vida de garçom!
Uma coisa que tem tomado bastante o meu tempo, com muito prazer por sinal, é a organização da minha viagem de fim de ano. Para quem não sabe, meu irmão Lucão está vindo me encontrar em Amsterdam e nós iremos até Praga para o Natal, Roma e depois para o rèveillon em Barcelona. Ui, que problemão! Para aumentar a emoção, Gustavo nos acompanhará.
Falando em Gustavo, é com muito prazer que anuncio que nós dois voltaremos a dividir um teto depois de uma parceria de muito sucesso em São Paulo, nos lindos tempos de faculdade. A República Amnésia lançará no próximo dia 10 de dezembro sua sucursal em London. Estamos nos mudando para um quarto muito bacana aqui em casa mesmo. Teremos muitas histórias para contar!
Tenho mantido minha rotina de orações no máximo que posso e me sinto muito privilegiado cada vez mais pela oportunidade que estou tendo de passar este momento aqui.
Há alguns dias eu tive uma sessão de saudades. Foi a primeira bem forte que eu tive, mas me concentrei, rezei e fiz questão de confrontá-la lembrando de tudo que eu tenho aí. Minha família, meus amigos, meus lugares. As coisas que me esperam e que eu espero.

Acho que peguei no tranco e já atualizei bastante o período de ausência.
Agora vou deitar, já que minha bunda está formigando, meus dedos estão doendo e minha cabeça está fervendo.
Amo vocês, saudadona.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

No forno.

Tenho um monte de assuntos a explorar.
Nevou aqui, meu joelho dói, a temperatura não passa de dez graus e agora tem um violão aqui em casa. Foi aniversário da minha Buneca na praia... maior galera. A Má vai casar esse final de semana. O Obama vai fazer história amanhã. Mariolim completa 26! Uia!
Mas não estou NADA inspirado para colocar isso em palavras aqui. Mamãe disse: introspecção.
Não, não estou com preguiça. Não, não perdi a mão.
Estou bem, cansado e feliz.
Só estou esperando a oportunidade. E eu já vejo fagulhas quando tento colocar meus pensamentos em atrito com minha criatividade.
O tempo aqui passa rápido. O meu breve é um pouco diferente do que era antes.
Não vou colocar aqui idéias mal-passadas.
Amo vocês.
Beijo.