segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Releituras com cuidado.

A semana passada foi realmente devorada pelo tempo.
Segunda a sexta sem mudanças muito significantes. As únicas coisas que estão muito diferentes são o tempo e a temperatura. Já está escurecendo perto do horário normal (para mim) e o frio está começando a dar as caras. Brrrrrrrrrrrrr...
Eu já queria há muito tempo ter feito uma lista de desmistificação das coisas inglesas e vou tentar enumerar aqui algumas coisas que não batem em nada com aquilo que havia escutado antes de vir.
O Big Ben não é pequeno. Aliás, o Big Ben não é nem o relógio mas, o sino que badala dentro dele. E, tanto a torre, quanto o sino, são bem imponentes.
O inglês é muito sério sim, mas conheci alguns muito simpáticos e educados.
Eles são pontuais mas, em muitas oportunidades, já vi gente correndo com cara de sono e ressaca pelos corredores do tube. Além disso, os trens se atrasam constantemente, atrasando, assim, os tão pontuais ingleses.
O Rio Thames é sujo. Não é um Tietê, claro, mas, vendo bem de pertinho percebe-se que ele está longe de ser um viveiro de peixes felizes. Vez ou outra ainda rola um bodó!
Lembrei de falar sobre estes mitos porque aqui foi lançado um que eu não duvido, mas adoraria que fosse falso. Todos falam do frio aqui com uma dor que só vendo. Dizem que é para eu me preparar, pois a luz do dia vai embora às 15h e que o frio ataca mesmo. Dóem os dedos, os pés, as juntas. O que será do meu joelho?!
Fora isso, os dias aqui estão cada vez mais comuns. Hoje se completam 3 meses que eu saí de casa. Uma beleza! Um marco a ser comemorado e lembrado. Mesmo já tendo tido a experiência de morar fora de casa, a vida era uma moleza. Tinha dinheirinho na conta, cartão de crédito, a Gi para lavar, passar e engomar as minhas roupas todo santo final-de-semana. Qualquer saudadezinha era resolvida no máximo em uma hora de viagem e o valor das coisas era diferente.
Agora não. Agora, além de eu estar a milhares de milhas de casa, além de ter que fazer muita salada para pagar minhas continhas, sou diferente.
Ontem estava conversando com o Gustavo em Camden Town. Foi uma conversa bem bacana. Percebi o quanto ele está animado com a mudança brusca na vida dele. Como é de costume nele, qualquer coisinha o deixa deslumbrado. Aqui não é diferente. O fato de ele ter de lavar as roupas, fazer as compras e as comidas, ficar com a mão toda vermelha e machucada de tanto carregar peso e lavar copos, estão servindo de combustível para ele. Quem duvidava que ele conseguiria, pode esperar para encontrar outra pessoa em alguns meses.
Ficamos conversando por algumas horas e chegamos em um ponto que começamos a reler nossos últimos anos. Foi uma releitura muito difícil. Passando por confidências e analisando nossa postura nos últimos 3 anos, ficamos com um aperto comum no peito.
Agora falarei por mim.
Esse aperto me veio bem forte. Vi a quantidade de coisas que eu deveria ter feito diferente. A quantidade de erros que eu cometi, decisões erradas e atitudes lamentáveis. Pessoas que poderia ajudar e pensamentos simples que poderiam ter evitado que eu tomasse decisões e agisse de maneira errada.
Quando percebi que estava começando a sofrer com a releitura e o Gustavo também, me veio uma luz bem boa e uma energia me despertou.
Falei para ele que é importante fezer esse precesso de "voltar a fita" mas, é preciso ter cuidado demais. Esse processo machuca e pode nos levar a um lugar indesejável. O essencial é reparar que a capacidade de perceber os erros já é um sinal de mudança para frente. Agora eu me sinto munido de força de vontade para fazer diferente. Investir minha energia em coisas construtivas. Ajudar a quem precisa e tentar sempre melhorar. Me assusto um pouco em ter já 25 anos, mas sei que é muito pouco. Eu fico tão aliviado em saber que posso ter adiante muitas oportunidades para fazer diferente.
Continuarei fazendo releituras e, sempre que possível, perceberei que, por mais que esteja falando de mim, sou diferente. O tempo está passando e não quero deixar isso acontecer em vão.
Vamos todos tentar dar uma olhadinha para trás e perceber que nunca é tarde para mudar. O arrependimento existe e deve ser visto como uma oportunidade de perdão. Uma oportunidade de fazer diferente.
Mas é preciso cuidado. Não se pode deixar o sentimento de culpa passar por cima e derrubar todos os processos construtivos que levam à releitura. O passado pode ser referência para o bem ou para o mal mas, ele não será mudado por nada, apenas podemos construir agora e, no futuro, sermos melhores.
Amo vocês, saudadona.

6 comentários:

Unknown disse...

É, filhote, lá se vão 3 (longos!)meses! Comemore mesmo tudo o que aconteceu nesse período, que mais parecem 3 anos!Uma nova estação começando, mais uma oportunidade de aprendizado! Pratique mesmo esse "voltar a fita", não para sofrer, se julgar ou se arrepender, mas sim, para perceber que todos temos outra chance ainda para conseguir resultados diferentes.
Te amo, filho. Se cuide e fique com Deus.

mariluci disse...

Felipe,

Será que diante da sua reflexão a galera ficou tão pensativa que ninguem escreveu nada para vc? (salvo se pai...atento e forte!)
Você têm razão, as releituras são ótimas! Geralmente, um aprendizado!
Aproveite o inverno londrino...deve ser um charme!
Fique com DEUS!
Beijo

Felipe Valente disse...

Madrinha, me pergunto isso todas as vezes que entro aqui e zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz....

Ju Pimentel disse...

rsrsrs ... nao fica assim Fezão, mesmo sem manifestar diariamente estamos sempre aqui acompanhando suas aventuras!!! Bjs Ju

Unknown disse...

Oi fezinho, tudo bem, filhote?!? No domingo vi no "Antena Paulista" uma reportagem (parte de uma série)sobre o Rio Tietê. Dessa vez foi uma comparação com o Rio Thames, de como é possível se recuperar e/ou melhorar as coisas. A reportagem foi muita bonita e acabou dando um giro por Londres, mostrando o curso do rio e como o pessoal aproveita suas margens e leito. Vi o os olhos de Londres, o pepinão, umas pontes bacanas, a torre que tem o Big-Ben(que é o sino e não o relógio!), bastante gente andando pra todos os lados, o ônibus beliche, enfim, um monte de coisas que me encheram os olhos. Quando percebi, a reportagem já estava acabando e eu me sentia aí, como que fosse te encontrar de repente, ali no meio daquela gente toda, correndo pra receber aquele abraço gostoso que to querendo tanto.
Te amo, filhote. Cuide-se, fique com Deus.

P.S.: Hoje quando fui levar o Marcos pra escola ele me mostrou o cartão que recebeu de vc. Estava todo feliz e levava pra mostrar pra galera.

Unknown disse...

Oi Feee
Adorei sua escrita, bom, qto ao frio, eu senti realemnte o que eh anoitecer as 3 da tarde e sentir falta de ar, dor nos ossos e sensacao de morte iminente de tanto frio..hahaha....mas passa, pense no verao brasileiro, como se estivesse deitado na areia de frente para o mar, este eh um bom conselho, minha tecnica predileta, mais algumas dicas, sempre pare para tomar algo quente, um cha, cafe...sempre resolve o problema esta pausa e sempre que for usar sua camera, de uma esfregadinha, para recuperar a bateria q vai sumir no frio em segundos...bom, essas sao algumas dicas de sobrevivencia que agente aprende na vida...outra coisa, fiquei muito feliz pela sua escrita de refletir sobre o passado e encarar isto como uma mudanca para o futuro sem culpas...eh um trabalho arduo que tenho exercitado ultimamente tb, muito bom...foi bom ouvir de vc de forma tao bela!!bjo enorme te amu