domingo, 6 de julho de 2008

Sentindo na pele. E nas pernas.

Enfim chegou o dia em que eu ia trabalhar aqui. E foi duro!
Como disse na rapida postagem de anteontem, saimos daqui de Londres as 11h e chegamos em Manchester cerca de 4h depois.
Muito boa a sensacao de passear. O motorista era o Mauricio. Ele e o irmao dele, Gabriel, sao de Lorena e trabalham pra MJR TOM desde que chegaram aqui. Alem dele, Vitor, de Santos, Marcelo, de Sao Paulo (estuda na Casper), Mavuto, do Zambia, Gustavo e eu.
Aquelas paisagens de filme, com longos campos e casas tipicamente inglesas no meio das fazendas. Passamos direto por Oxford, paramos em um posto de estrada, comemos, fomos ao banheiro e finalmente chegamos. O evento era uma Horse Race. O lugar, Haydock Park, e um jockey club muito bonito.
Deu para desfrutar da beleza do lugar apenas por uns 10 minutos. Dai em diante, labuta.
Comecamos preparando as mochilas, carregando os toneis, colocando os uniformes e recebendo as ultimas instrucoes.
Pensei muito antes de escrever sobre essa experiencia pois, para mim, ela foi muito marcante.
Apesar de todo oba-oba de ter arrumado o primeiro trampo, estar viajando pela Inglaterra e etc., eu realmente estava ali, vestindo um uniforme. Camisa azul, calca preta, sapato preto, avental e bonezinho. Carregando uma mochila de 20kg de cerveja nas costas e a obrigacao de vender para um monte de gente que estava ali se divertindo. Surreal.
Nao cheguei a me abalar, mas a sensacao era muito estranha.
Nos primeiros minutos, um pouco de vergonha. Nao exatamente por estar servindo os outros, mas porque eu estava sentindo na pele o que as pessoas que realmente vivem disso passam. Tiracao de sarro, falta de educacao, cobranca. Insignificancia.
Todo o tempo eu me apoiei numa teoria simples, mas muito eficaz. EU escolhi vir. Se eu estava ali, era de corpo e alma, sem arrependimentos.
Depois dos primeiros copos, a inibicao se vai e tudo funciona numa boa. E uma conduta que depende unica e exclusivamente da minha proposta em viver a experiencia por inteiro. Se eu estava comprometido com quem me contratou, estava principalmente comprometido comigo e com meu projeto de viver novas situacoes, absorvendo delas cada detalhe, cada ensinamento.
Passou muito rapido. O movimento foi tranquilo, mas mesmo assim fiquei entre os melhores vendedores.
As pernas, as costas e os ombros um pouco doloridos, mas nada que um bom banho e um Dorflex nao resolvessem.
O combinado era de irmos dormir em um hotel ali perto. De ultima hora, Gustavo e eu fomos mandados para a casa do nosso manager, o Mazuba, em Manchester.
Saimos de van, deixamos os meninos no hotel e ja estavamos esperando pelo pior. Surpresa boa e um refresco a qualquer hora. Para comecar, passamos num supermercado e compramos muita comida. Seguimos para a casa e, quando chegamos, abri o sorriso do alivio! A casa era otima, com 3 quartos, um banheiro limpinho, uma cozinha, TV a cabo, internet e quintal.
Tomei um banho, coloquei uma roupa quentinha e confortavel, passei rapidamente pela internet, comi e fui deitar. Apesar de ter que dividir uma cama de casal com o Gustavo, o sono foi otimo. Estava tao cansado que nem me mexi.
Acordei. Banho, cafe e estrada. Estava chovendo demais. Uma mistura de alivio e apreensao, ja que o evento poderia ser cancelado.
Chegando la, abriu um solzao. As pessoas comecavam a chegar aos montes. Mulheres muito bem arrumadas, lindos vestidos, salto alto e chapeus esvoacantes. Homens de terno, muito dinheiro para apostar e muita sede. MUITA!
Todos disseram que o dia seria cheio. E foi. Diferentemente de sexta, quando vendi 5 malas de cerveja, ontem vendi 13. Mas nao foi facil nao. As pessoas ficaram mais bebadas, portanto, mais sem educacao. Mais uma vez me apoiei em mim mesmo e "liguei o foda-se". Com o perdao da expressao, nunca ela foi tao bem aplicada. Somente desligado de tudo que eu ja tinha experimentado, de tudo que fazia parte da minha experiencia de vida ate entao, eu poderia passar por cada minuto daquilo como nada mais que um efeito direto da minha escolha.
Apenas uma conclusao pode ser tirada com total certeza: a vida tem muitas verdades, e a realidade e aquilo o que se apresenta pra nos, nao apenas o que acreditamos.
Saimos de la umas 20h, direto para Londres. Muita chuva. O triplo do cansaco. Paramos de novo para comer em um posto. Em menos de 4h estavamos na estacao de metro. Cheguei no hostel, tomei um banho e fui dormir que nem um zumbi.
Resumindo: meu primeiro trabalho aqui foi muito bom. Entrei em contato muito profundo com uma realidade ate entao distante de mim. Aprendi uma nova profissao, conheci muita gente boa. Descobri um pouco mais da amplitude da vida e senti na pele o resultado da minha escolha.
Minhas pernas doem, mas a caminhada esta so no aquecimento.
Nao dizem que a dor nos faz crescer? Que venham mais 1000 mochilas de cerveja.
Amo voces.
Beijos

2 comentários:

L.V.P. disse...

E o orgulho vai crescendo à medida do seu cansaço.

Te amo, Fe.

mariluci disse...

Felipe, compreendi exatamente o que você sentiu neste trabalho. ("Eu já vi esse filme...")Como você disse, é só o começo. Certamente outros virão e melhores, pelo menos não tão desgastantes fisicamente.
O que vale é que você está "focado" e que é muito jovem!
Beijos